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PRIVADO | PUBLICO 

O espaço público está associado a posse do todo, da coletividade, do qual de alguma forma se faça o uso comum. Em sua maioria são “vazios” em meio as construções das cidades e de responsabilidade governamental. 
Todos os espaços de circulação, contemplação, lazer e de preservação e conservação encontram-se incluídos nesse termo. Assim ruas, calçadas, academias ao ar livre, pistas de skate, prédios históricos, reservas ecológicas e monumentos são patrimônios de bem geral, nos quais o direito de ir e vir é total e garantido a todos com o objetivo de gerar o convívio coletivo harmonioso.

"O entendimento da necessidade de criar esses espaços é antigo, a praça pública surgiu na Grécia antiga e “se caracterizava como um espaço construído, permanente e fixo, que, tinha também um sentido político – era o lugar onde se deliberavam assuntos importantes para a vida dos cidadãos e da sociedade como um todo.” (CASTELLAN, 2017)

A Ágora, como era chamada na Grécia, era espaço de discussão dos cidadãos e dos problemas urbanos, questões da sociedade como um todo, possibilitando assim o debate, percepção e convivência dos diferentes no mesmo espaço. 

Que esses espaços existem ainda é fato, mas o ponto diferencial na sociedade contemporânea foi o aumento da desigualdade e a naturalização da separação entre cidadão e cidade, o que acaba por sua vez descaracterizando o próprio conceito de cidadania. 
Um bom exemplo desse distanciamento é o aumento das vias de trânsito acompanhando a era do consumo e da hipervelocidade em detrimento das calçadas e áreas de convívio, diminuindo a chance de conexão entre pessoas devido a diminuta chance de se encontrarem e se conectarem. 

"Áreas públicas, áreas verdes, lugares onde o direito de estar no espaço sem necessariamente estar consumindo são escassas.
É essencial que não se continue reproduzindo uma lógica de intervenção urbana que é baseada em suprimir determinada classe ou reprimir o desejo de pertencer ao local do usuário. “... afinal, estamos diante de espaços verdadeiramente públicos ou de espaços concebidos e implementados para um tipo específico de público?”
(SERPA, 2007). 

Fora do Brasil esse caminho de volta vem sendo feito há algum tempo e significa a volta da humanização das cidades.
A apropriação dos espaços existentes parece ser então uma boa medida, que aliás já vem sendo aplicada pela própria população há tempos, na busca de fazer parte, preservar e compartilhar, isso passa pelas artes e intervenções. Alterar muros, com grafites por exemplo, que antes estavam fadados a palidez do branco e cinza pode ser um meio de interagir com a sociedade e fazer pensar.

Assim como destacado por Aloma (2013) a consciência de ir contra a corrente está presente na intervenção dos espaços públicos contemporâneos, numa sociedade onde “tempo é dinheiro” e a velocidade das coisas foi escolhida em detrimento da qualidade de vida desacelerar essa urgência é como contrapor as filosofias do “fast-food” à de “slow-food”. 

"Trata-se de retornar ao uso mais amável das cidades, que serão lugares onde o tempo será também vida e não apenas dinheiro, onde “haverá tempo para a apreciação de tudo aquilo que supõe o crescimento urbano, tanto em indivíduos como em coletividades. ” (ALOMA, 2013).

POP'S

SE AS PESSOAS PENSAM QUE UM ESPAÇO É PÚBLICO, 

ENTÃO ELE É UM ESPAÇO PÚBLICO.

 Atualmente este é um ótimo recurso para cidades densamente ocupadas, aonde a aquisição e manutenção de terrenos pela municipalidade seria praticamente inviável e muito dispendiosa. Para Kayden et. al. (2000, P. 22), a lógica que suporta a criação de POPS se baseia na crença de que a cidade seria um ambiente melhor se construída de muitos pequenos espaços públicos e edifícios de grande porte, do que com poucos espaços públicos e edifícios menores.

Abreviação de 'Privately Owned Public Space' e traduzido para 'Espaços públicos de propriedade privada', os POPS surgiram basicamente no século XIX com a criação das galerias de Paris já mencionadas, que criaram espaços de convivência em meio ao comércio local. Mas, hoje em dia, podem ser encontrados em diferentes tipos, como bares, cafés, shopping centers, parques temáticos, campus universitário, museus ou praças corporativas, espaços que assumem um contexto de grande importância na cidade e rivalizam diretamente com espaços efetivamente públicos. Os POPS ficam ainda mais conhecidos quando, em 1961, a legislação urbana de Nova York passa a oferecer benefícios de área construída para os edifícios que garantissem espaços para uso público.

A condição relativa do espaço público pode ser considerada em termos de: 


1- abertura e acessibilidade aos usuários; 
2- suporte para atividades comunitárias; 
3- visibilidade e transparência; 
4- diversidade, tolerância e acomodação; 
5- autenticidade e surpresa.

Infelizmente questões de segurança são potencialmente problemáticas a respeito desses locais, já que a tentativa de atrair uma população mais 'apropriada' depende sempre da exclusão de um público considerado indesejável. Neste sentido é importante relembrar o que François Ascher apresenta como um novo princípio para o urbanismo.

“Conceber espaços múltiplos de n dimensões sociais e funcionais, hiperespaços que articulem o real e o virtual, propícios tanto à intimidade quanto às mais variadas sociabilidades”. (ASCHER, 2010, p. 90). 

Para Carmona (2014) bons espaços públicos são: evolutivos (por vezes negligenciados); balanceados (positivamente invadidos); diversificados (não intencionalmente exclusivos); delimitados (não segregados); sociais (por vezes insulares); livres (públicos ou privados); atraentes (envolvendo consumo); significativos (frequentemente inventados); confortáveis (confrontando os espaços do medo); e robustos (resistentes à homogeneização).

OS NOVOS ESPAÇOS CONTEMPORÂNEOS

Uma nova maneira de perceber o que é público e o que é privado apresentado por François Ascher  é o caráter público de um lugar resultar de ali se ter conformado um determinado ambiente comportamental, isto é, encontrar em círculos sociais algum elemento que interaja com o ambiente e com o experimentador ao mesmo tempo, criando um espaço de convivência próprio desse público, agregando o maior número possível de pessoas com o mesmo interesse sem, ao mesmo tempo, segregar o uso do local.
Visto desta forma, os POPS nas cidades - reconfiguradas pela dispersão, e ao mesmo tempo, recentralizada em concentrações de usos mediados pelo consumo – podem ser vistos também pela aparição de novos ambientes privados caracterizados como flagship stores, ou 'lojas conceito' que, trazem para seu público alvo não apenas um espaço de consumo de bens materiais, mas principalmente focam na experiência do usuário, agregando ao ambiente físico do espaço não só os produtos que comercializam mas também um ambiente de experiências existenciais e suporte as atividades cotidianas desse público, fazendo parte de um sistema de espaços públicos heterogêneos e compatíveis com as atuais demandas urbanas.

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