
fashion food
A SIGNIFICAÇÃO DO COMER E DO VESTIR
A relação entre a indumentária e a culinária dentro da cultura de um povo é tão complexa que fica difícil falar de uma sem esbarrar na outra. Na Itália, por exemplo, alguns dos estilistas mais famosos no mundo da moda, também gerenciam famosos e sofisticados restaurantes, como o bar Martini da dupla Dolce e Gabbana, o Cavalli Club de Roberto Cavalli com sedes em Miami e Milão, o bar e restaurante da Bvlgari em Milão e Giorgio Armani que possui mais de vinte endereços pelo mundo todo, entre cafés, restaurantes e bares e até mesmo um hotel em Dubai. Esse emaranhado de ramificações se deve ao fato de que, tanto a comida, quanto a vestimenta tem um papel social muito importante na forma como nos identificamos.
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Para Castilho (2004, p.17) “a moda é uma entidade abstrata que ”modaliza” maneiras do sujeito materializar-se como presença”. Enquanto para Woortmann, K. (2006, p. 32) “a comida, é uma categoria nucleante e hábitos alimentares são textos. Quando classificam-se alimentos, classificam-se pessoas, notadamente os gêneros homem e mulher, pois se o alimento é percebido em sua relação com o corpo individual, este é uma metáfora do corpo social.” . Culturalmente a comida e a moda são “expressões de”, são a representação de algo dentro da nossa próprio cultura, elas falam da família, de gêneros, de ideologias e hierarquias.
Sahlins (1979, p.190) aponta na parte A Preferência de Comida e o Tabu dos Animais Domésticos Americanos, em Cultura e Razão Prática a existência de um habitus machista antigo traduzido para hábitos alimentares: “... a centralidade da carne, que é também a indicação de sua 'força', evoca o pólo masculino de um código sexual da comida, o qual deve originar-se na identificação indo-européia do boi ou da riqueza crescente com a virilidade.”

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Barnard (2003) ressalta que moda, indumentária e vestuário são fenômenos culturais na medida em que constituem práticas significantes e que, através deles, a posição de um indivíduo na ordem social a que pertence é experimentada e comunicada. Além disso, atam uma comunidade mantendo-a unida. Essa função unificadora serve para comunicar a afiliação de um grupo social, tanto para aqueles que são membros quanto para os que não são.
Werneck (2008) explicou que o que um vestuário, um automóvel, um prato de comida ou uma imagem publicitária podem ter em comum é o fato de que são signos. E, em sua existência de signos, eles se dão a ler ao homem moderno sob a forma de imagens, gestos e comportamentos e essas leituras implicam valores sociais, morais e ideológicos.
Intrinsicamente ligadas uma a outra, a indústria da moda e a indústria alimentícia caminham juntas, paralelas a todas as outras questões que permeiam a nossa sociedade, sofrendo mudanças estratégicas toda vez que a forma de consumo é transformada pelo desejo do agente consumidor. Podemos encontrar nas galerias de Paris do século XIX o embrião histórico do que viriam a ser chamados de 'espaços urbanos', que juntavam em luxuosas ruas comerciais cobertas por sofisticadas estruturas de vidro e aço, que podem ser consideradas o antecedentes do contemporâneo shopping mall. Mas os centros comerciais que conhecemos atualmente, os chamados shopping centers, são considerados um 'invento' do arquiteto austríaco Victor Gruen.
O grande aumento destes estabelecimentos na década de 1980 trouxe o ápice a doutrina do fast (iniciada em 1950), criando o que, mais tarde, se tornaria um elemento distintivo e muito importante para esses centros comerciais: as praças de alimentação. Ávidos por espaços multifuncionais que não desperdicem seu tempo devido sua rotina cada vez mais corrida, os consumidores modernos encontraram nesses ambientes a junção perfeita do seu estilo de vida baseado no consumo em massa.


Oferecendo ao mesmo tempo uma concentração de lojas fashion e restaurantes de comidas rápidas, os shopping centers conseguiram conjugar em um único ambiente, compras, serviços de lazer e uma atividade fundamental: o comer. A enorme difusão deste modelo de comércio que simplifica ao extremo a sobreposição da urbanidade, vida social e atividade comercial, modificou os padrões de consumo, a forma de deslocar-se e os hábitos de ócio de milhões de famílias.
No entanto, tanto o fast fashion, quanto o fast food vem perdendo força frente a terceira onda da sociedade de consumo, que preza pela qualidade, originalidade e uma ideologia de vida saudável. Esse cenário tem dado lugar as correntes contrárias a esse estilo de consumo desenfreado chamadas de slow fashion e slow food, que são, basicamente, baseadas em produtores locais, preço justo e sustentabilidade.
Esta nova vertente de comércio vem transformando os antigos shopping centers em criativos e até audaciosos espaços contemporâneos.